História do Carraças

Tudo, na Igreja, começa com um convite, um desafio. Foi assim com Jesus e os Apóstolos, foi assim na anunciação a Nossa Senhora. Foi e continua a ser assim, com os Carraças. +

 

O Desafio

Tudo começou numa conversa entre duas “tias”, a Ginha Almeida e Brito e a Isabelinha Beltrão. Uma conversa sobre as férias grandes dos miúdos, sobre como não têm nada para fazer e de como as férias, por vezes, nos podem afastar de Deus. A Isabelinha perguntou, se a Ginha e o Inácio não queriam fazer umas férias diferentes, organizando um campo de férias católico. E sugeriu que desafiassem um casal amigo com filhos sensivelmente da mesma idade. Lembraram-se da Leonor e do Pedro Pereira dos Santos com quem, já tinham organizado uma sessão caseira da “Família torna-te o que és”, no âmbito do Ano Internacional da Família, a pedido do Papa João Paulo II e do Pe. João Seabra. Chegou então o convite da Ginha e do Inácio à Leonor e o Pedro, que estavam também preocupados com a sobrelotação do Camtil e a necessidade de se encontrar uma alternativa que permitisse a mais miúdos aproveitarem os benefícios que já reconheciam nos seus filhos, nas suas ligações às Guias e ao Camtil. A ligação que os quatro tinham em comum à miudagem era o facto de serem casais de Equipas de Jovens de Nossa Senhora (EJNS) e o pertencerem a famílias grandes, em que os filhos e sobrinhos se misturavam nas férias, o que já antecipava a saudável confusão dos campos de férias.

 

O Arranque

Os quatro foram jantar a casa da Isabelinha e do Pedro Beltrão, que lhes propuseram que organizassem um campo à semelhança dos campos SAIREF que eles tinham feito durante alguns anos. Para que entendessem que era mesmo para avançar, a Isabelinha entregou o seu dossier dizendo: "Assim se faz um campo de férias, está tudo aqui."

E estava tudo! Ementas, jogos, actividades, etc.

Começou assim a montagem do 1º campo de Férias com Deus no meio, em 2001. Juntou-se-lhes o Pe. Nuno Miguéis que foi o “Padre do Carraças” pelo menos 5 anos seguidos e ainda veio a ser o primeiro padre do escalão Pulgas. Foi também desafiado outro casal e convidados os animadores que conheciam, uns vindos das EJNS, outros recrutados entre amigos. Um dos casais, sorte imensa, ofereceu uma casa para se fazer o campo e, em tempo recorde, estava pronto para arrancar, em Julho.

 

As Idades

Escolheram-se para o campo as idades entre os 12 e os 14 anos, idades de pré-adolescência em que, também numa família, os irmãos por vezes discutem e não têm paciência uns para os outros mas, no fundo são amigos e, juntos, fazem coisas divertidas.  São também idades em que há muitas escolhas a fazer e em que os amigos e os grupos podem ser muito influentes. Por isto é uma idade em que, um tempo de férias bem estruturado e centrado em Jesus e nos valores cristãos da amizade, simplicidade e criatividade, pode ser um tempo de encontro com Deus e de aproximação à Igreja. Além disto era também a faixa etária de muitos dos filhos dos casais…

 

O ano Zero

Enviadas as cartas promovendo o campo “Sairef Pancas 2001”, com direito a anúncios em paróquias e na Voz da Verdade, esperaram-se as inscrições, num misto de alegria e expectativa. Na data limite apenas tinham chegado inscrições de filhos e sobrinhos, pelo que se desistiu do campo de 2001, que passou a ser conhecido como o ano zero.

 

O Campo Carraças

Em 2002 o 3º casal desistiu de fazer campo. Com ele foi-se a quinta! Então, por intermédio da Isabelinha Beltrão, o seu irmão Artur José emprestou-nos a Quinta da Adufa, perto do Cartaxo. Quando se foi visitar a quinta, ia também uma animadora de calças brancas. Depois de grande chuvada, apareceu o sol e as ditas calças brancas encheram-se de carraças!

Assim surgiu o nome Carraças, numa forma de agarrar pela positiva as crianças que vinham passar connosco uma semana de férias com Deus.

Neste ano houve 26 inscrições e cerca de 10 animadores! Foi um campo feito de forma amadora e dedicada... Alguns tios vinham a Lisboa trabalhar durante a semana e voltavam no fim do dia. Para além dos que eram participantes, os outros filhos dos casais também estavam presentes, dando um testemunho de felicidade de famílias que com os seus defeitos e qualidades, mal instaladas, e que podem e sabem divertir-se, numa entrega por um bem maior. Foi engraçado que, apesar das ótimas e muito completas sugestões do dossier recebido no início, o modelo que se foi montando, aberto a diferentes sensibilidades e em particular aos diferentes pontos de vista dos novos animadores (que vinham das Guias, dos Escuteiros, do Camtil, de Schöensttat e até alguns que não vinham de parte nenhuma mas estavam cheios de vontade para ajudar) acabou ao longo do tempo por se transformar num modelo diferente. Partindo do modelo proposto pelos Beltrões e conjugando as variadas influências, nasceu o 1º campo Carraças, em que a única certeza era a de que era de Férias com Deus no meio, num testemunho de família.

 

Não parou por aqui...

Em 2003, as inscrições aumentaram e o campo mudou-se para o Ral, uma pequeníssima aldeia no Vale do Vouga. O número de participantes nunca tinha sido uma grande preocupação, mas apontava-se para 40 carraças. E, apesar do risco de dispersão, sempre se foi muito sensível àqueles que ficariam de fora: entre um campo ótimo para 40 participantes (com vantagens como a coesão do campo e o maior conhecimento entre todos) e um campo bom para mais alguns, foi prevalecendo a preocupação com estes. Havia a noção de que a presença dos casais poderia permitir alguma flexibilidade adicional, sem haver o risco de descontrolo do campo. E assim, as inscrições foram surgindo e sendo aceites, mesmo no caminho entre Lisboa e o Ral, sendo uma surpresa para os animadores e diretores haver mais dois ou ou três miúdos dos que os previstos à partida de Lisboa. Estabilizámos nos 60 animados! As inscrições não paravam de crescer e em 2006 decidiu-se criar o 2º campo, o que implicou a entrada de dois novos casais, a Sofia e Vasco Magalhães Ramalho e a Luísa e Vasco Pinto Leite. Havia agora campo no Ral e outro na Gandarinha, em Cucujães.

E depois passaram a existir mais outro e mais outro... 

 

Os Pulgas e os Carrações

Os Pulgas nasceram em 2008 do entusiasmo de dois casais, a Matilde e João Vinagre e a Rita e Pedro Ulrich, para os mais pequenos 10-12 anos.

Replicaram o modelo “Carraças”, herdando alguns dos animadores e até o Pe. Nuno Miguéis como assistente. Surgiu também outro escalão, o dos Carrações (16-17 anos), para os que queriam continuar a fazer campos, mas já não tinham idade para isso. O esquema dos campos era o mesmo, todos eram campos Carraças, havendo uma integração dos escalões criados: Pulgas, Carraças e Carrações, para as diferentes idades.

 

E foi crescendo!

O crescimento ao longo dos anos não foi indolor, foi preciso assegurar que a originalidade de cada campo não implicava uma perda de identidade. Sem perder a especificidade de cada campo, importava que cada carraça reconhecesse o campo como sendo de “Carraças” e se relacionasse com os carraças de outros campos como pertencendo a um movimento comum. Foi preciso garantir um mínimo de organização e estrutura, havendo muitas trocas de ideias (e algumas discussões!), o que também reforçou, entre todos, o sentimento de unidade e de pertença. Passados 15 anos estas Férias com Deus, continuam a multiplicar-se e a crescer! Somos agora 11 campos, o que significa 33 Casais 11 Padres e quase 200 animadores e cerca de 660 pulgas, carraças e carrações! Podemos dizer que hoje ninguém fala, com propriedade, de um campo como o seu campo, mas todos se sentem responsáveis uns pelos outros, todos se sentem participantes em todos os campos, todos se sentem verdadeiramente “CARRAÇAS”.

Para a realização destes campos que foram uma enorme Graça de Deus, foram essenciais todos os padres, directores, tios, animadores, animados, carracinhas, pulguinhas, donos das casas, irmãs carmelitas, clarissas e concepcionistas, Associação D.Pedro V, pessoas das terras, todos os que ajudaram...

De realçar ainda as peregrinações anuais a Fátima que a todos ajudaram a crescer na amizade a Deus e uns aos outros. Também as missas de Envio e Acção de Graças, os encontros de Natal, os encontros de tios e a formação têm contribuído para unir e crescer.

 

“Obrigado!”

Quando se começou, ninguém imaginou o enorme crescimento que iria ter. Mas, mais do que o número de campos, de animados e de famílias, os testemunhos de quantos encontraram nos Carraças o caminho para Deus ou aqui reforçaram a sua fé e o amor à Igreja, confirmam o olhar favorável de Deus sobre todos. A unidade e a identidade do Carraças implica um esforço permanente de aprofundamento e obriga a escrever, a articular, a planear, a organizar, etc... Mas o essencial é nunca se deixar prender pela forma e manter o entusiasmo, a espontaneidade e a frescura, não perder o sentido de um caminho, feito em comunidade. Sim, os Carraças pretendem constituir uma comunidade de amigos que se entreajudam no caminho para Deus e procuram ser, para os outros, testemunhas do Seu amor.

E também nas nossas famílias percebemos como o Carraças tem sido um alicerce fundamental no caminho de Fé que cada um vai fazendo e um enorme factor de aproximação e união entre todos.

Por tudo isto, só podemos pedir a Deus que nos ajude a dá-Lo a conhecer a cada vez mais miúdos e a ir sempre mais além! E repetir, hoje e sempre, sem cessar:

“Obrigado, Senhor, Obrigado!”